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UIVANDO PARA UMA LUA DE CONCRETO




Inaugurando a categoria CONTOS, um post com um conto de minha autoria. Respirem fundo e tenham pensamentos quentes.

"Em meio a rotos rabiscos em fragmentos de papel, amontoados sem ordem certa sobre o chão da sala, sorrisos. Ela, cálida, se mantinha a mesma doce e seca criatura do ocaso.
Víbora, que destila o veneno meticulosamente em doses mortais, colecionava de maneira perspicaz os tais rabiscos - que eram em sua maior vez nomes ou endereços - e os guardava de maneira lúgubre; junto com pedaços de centenas de corações partidos: lutuosos troféus.
Desse modo ela fazia todas as noites de sexta. Retirava-os do seu baú cor-de-orquídea e espalhava-os, sentia-os, esfregava-os contra o peito nu, absorvendo o ultimo resquício de amor que ainda havia.
Afundada no mar de possibilidades mil ela os lança, e deita, e rola. Quão libidinosa e vil. Dança e baila penetrando a noite, que por sua vez, recebe a madrugada com o estalo sórdido de um beijo pós-coito. Esmiúça os detalhes em todos os seus poros. Afame como um espetáculo aguardado com anseio por um público apoteótico. Pleiteia os melhores lugares para uma exibição circense de uma noite de horror. Tímida, ela enrubesce o rosto quando encontra entre os montes o grafo desejado. Tão simples, que emerge o óbvio: um número e um nome. Põe-se a ligar. Segundos de espera, uma voz. Minutos de conversa, o suficiente para o convencimento. Desliga o telefone esboçando um sorriso de canto de boca satisfatório, mas não suficiente.

O relógio tilinta: três badaladas. Ela sai do banho, seca os cabelos, joga a toalha no chão. Passeia nua. O Bourbon está pela metade no copo. Numa tragada saliente, devora o que sobrou de sua consciência. Borrifa no colo salpicado de sardas seu perfume favorito. Não sei o porquê do gosto por flagrâncias masculinas: em especial almiscaradas, com notas de carvalho. Põe o vestido preto de seda, desliza entre os lábios a tinta infernal e parte. Parte quando já morria na noite a última estrela da madrugada.

E pela noite seguiu, montada em salto de agulha. Seu simples caminhar ateava em cada esquina paixões e suicídios. Na sua ira ventava fogo; as chamas ardiam no interior de sua alma abjeta. O luar, com sua silhueta prateada, testemunhava calado.
Na esquina, o bar do encontro. Entra como se fosse sua casa, acena para o garçom. Esse retribui com um discreto piscar de olhos, enquanto enxugava um caneco de vidro.[...]" by Solano França [Gostou desse conto? Quer saber o final??? Então comente !]

1 comentários:

  Diogo Carmona

23 de fevereiro de 2011 às 16:06

hey brow, curti muito o seu conto, mas eae cara, como eu vejo a continuação?

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