
trecho de um livro de uma escritora desconhecida. Para proteger a identidade da mesma não divulgarei o nome ...
Ela fala sobre a igreja. Ela fala sobre si mesma.
"Quando entrei naquele local de culto pela primeira vez, não imaginava que sairia de lá tão fascinada. Tudo parecia puro e simples e todos pareciam compartilhar de um sentimento de irmandade que me faltava. Eu vinha de um final conturbado de uma relação confusa e havia perdido amizades que eu considerava verdadeiras. Estava sem chão e lá encontrei alívio por duas horas.
A minha presença parecia ser querida e desejada. Não era pra menos. Não são todos os dias que belas jovens de 19 anos, loiras, bronzeadas e bem vestidas adentram uma igreja evangélica numa noite de verão. A solicitude com que me trataram tocou o ponto fraco da minha necessidade de aprovação e de ser o centro das atenções.
Mas o que me fascinou de verdade foram as duas meninas que no pequeno palco cantavam louvores a Deus de mãos dadas e com expressões de quem encontrou o caminho, a verdade e a vida. Posteriormente eu descobriria que essas expressões podem ser provocadas pela satisfação narcísica de cumprir uma função que as tornava importantes diante do restante da congregação. Eu me senti atraída por elas e elas por mim. Eram nítidos seus olhares de admiração em minha direção. Admiração e desejo de se aproximar. Eu era carne nova no pedaço. Carne e alma. Uma alma fresquinha pronta para ser bombardeada de amor e guiada pelos caminhos do Senhor. O caminho que elas seguiam e que em sua santa superioridade elas acreditavam que seria a única salvação para a patricinha fútil em suas roupas levemente sensuais. Era verão, afinal, e eu vestia-me como qualquer garota vaidosa se vestia em 1999.
Mas fui fisgada já naquela noite. E o caso que eu mantinha com aquele cara que só queria me comer foi descartado, como se uma pureza súbita tivesse se abatido sobre mim. Tempos depois quando já estava tentando converter outros incrédulos atribuí essa decisão a uma influência divina. É assim, se a gente toma vergonha na cara e pára de dar pra qualquer um, o mérito é de Deus, se a gente sai tacando o terror e pirigueteando por aí, a culpa é nossa.
Mas prossigamos... Após aquele primeiro culto, comecei a ser uma assídua freqüentadora das noites de domingo. Não larguei minhas festinhas, nem as bebidinhas e cigarrinhos que elas continham, tampouco as roupas decotadas e barrigas de fora que eu ainda usava na época. Mas apenas uma crente de domingo não é o suficiente para a fome de membros que toda congregação evangélica tem. Logo surgiu o convite para um dos tais retiros de carnavais." continua ...








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